Por Maria Eduarda Oliveira
Passar no vestibular é o sonho de boa parte dos jovens brasileiros. Infelizmente, em um país banhado por desigualdade, para muitos, essa é uma meta distante. Além dos problemas estruturais do ensino público, estudar para as provas demanda um grande desgaste emocional, financeiro e físico.
Ao mesmo tempo, um curso superior é a perspectiva da melhora de vida de quem vem de uma realidade difícil. Para algumas famílias, garantir a graduação de um membro é a certeza de progredir socialmente. Por isso, as horas de estudos e abdicação são recompensadas com a alegria de se ler aquele nome na lista de aprovados.
Mirella, ex-aluna do cursinho Estudos Intensivos para Tensos e Ansiosos (Eita), pôde passar por esse momento no começo de 2025, quando foi aprovada na USP. O Eita é um cursinho fundado em 2021 pelo professor André Buccieri com a ajuda de alunos do curso de Educomunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. “Se eu não estivesse no cursinho, provavelmente não estaria na USP, nem fazendo Educom”, afirma Mirella em entrevista.
Em 2024, mais de 100 mil pessoas se inscreveram na FUVEST e 4,32 milhões no ENEM [Imagem/Reprodução/Marcos Santos/USP Imagens]
O Eita já alcançou quase 300 alunos e hoje possui uma rede de voluntários, que se dividem entre mentores, professores, designers e outros cargos responsáveis por manter o projeto funcionando. Toda essa rede é responsável por resultados positivos como o da Mirella.
Mas o cursinho não quer só colecionar aprovações. O ambiente é inteiramente pensado para incentivar o bem-estar emocional de seus alunos. Com um espaço mais acessível, passar nas provas se torna, ainda que com dificuldades, uma jornada mais leve.
Segundo Mirella, ter professores prestativos, bons materiais de apoio e rodas de conversa foi algo essencial para o seu resultado, “os professores estavam lá como amigos”, diz. Uma dificuldade encontrada pela estudante durante sua caminhada foi a falta de uma boa base escolar, situação comum para alunos oriundos do sistema público, e entender que não podia se comparar a realidades distantes da sua.
Com o aumento dos conteúdos nas mídias sociais nas chamadas study community, isto é, comunidades de estudantes, estudantes podem cair em um limbo de comparações que adoecem o psicológico, prejudicando o desempenho acadêmico. Um bom acompanhamento emocional, como o cursinho Eita oferece, impede que isso aconteça.
Atualmente como caloura do curso de Educomunicação, o grande sonho de estar na melhor universidade da América Latina foi finalmente realizado por Mirella e agora os desejos se voltam para uma bolsa de intercâmbio. “Era algo longe da minha realidade, mas agora com a USP posso sonhar um pouquinho mais de perto”.
Assim como ela, outros estudantes de escolas públicas, que procuram uma aprovação, podem participar do Eita. O cursinho não possui processo seletivo e suas aulas são ministradas presencialmente das 9h às 17h, na Escola de Escola de Artes e Comunicação da USP, campus Butantã.