Saúde mental: uma problemática dentro das escolas brasileiras

Ações externas têm colaborado com algumas questões, como o PODHE da USP

por: Luana Machado

O mês de setembro acabou e com isso o debate acerca da promoção de saúde mental também é esquecido. No entanto, a temática é extremamente importante no âmbito educacional, principalmente quando considera-se os dados liberados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) os quais indicam que 1 em cada 5 adolescentes vai enfrentar problemas de saúde mental. No Brasil, os indicativos liberados pela organização são igualmente preocupantes: 15% das pessoas em idade escolar possuem doenças psicológicas, e apontam que a faixa etária ápice dos casos é por volta dos 17 anos.

Tudo isso influencia diretamente no aprendizado dessas crianças e jovens estudantes. Porém, as escolas brasileiras em sua maioria ainda carecem de estruturas que garantam amplo apoio psicopedagógico a seus alunos. Para pesquisadoras do Projeto PODHE (Projeto Observatório de Direitos Humanos em Escolas) do Núcleo de Estudos de Violência da USP, apesar de possuírem coordenação pedagógica especializada, ainda faltam profissionais com formação adequada para acompanhar os alunos cotidianamente no aspecto psicológico e pedagógico.

“Além disso, é preciso que as escolas legitimem as problemáticas de ordem psicológica, não só entre alunos, mas entre todos os profissionais que formam a instituição; o que é possível através de conversas coletivas, discussão do tema, debates a partir de filmes e outras peças artísticas, etc”, afirma Leandro Rodrigues, pesquisador do PODHE. Iniciativas de apoio e parcerias externas como o PODHE são ferramentas que podem ajudar nesse tipo de processo, desenvolvendo uma rede de amparo mínima, mesmo que não tenham essa função como objetivo central. No entanto,  devem ser consideradas como estruturas básicas e não substitutivas de políticas públicas fundamentadas pelas SE (Secretarias de Educação).

Desde 2017, o PODHE tem atuado em três escolas da rede pública (Escola Municipal Bernardo O’Higgins, Escola Estadual Professora Amélia Kerr Nogueira e Escola Estadual Dr. Ubaldo Costa Leite) com o objetivo de promover uma educação interdisciplinar e integrada ao contexto das comunidades em que estão inseridas. Dessa forma, ajudaram a implantar no 6º ano do Ensino Fundamental nas instituições em que atuam oficinas de sensibilização, favorecendo a cultura de direitos “interdependentes”, na qual o compromisso de cada um/a é fundamental para o alcance de um ambiente saudável. Outra ação nesse sentido foi o desenvolvimento de podcasts com estudantes de duas escolas de Ensino Médio trabalhando assuntos pertinentes ao processo educativo, entre eles a saúde mental.

Além disso, em 2020, os pesquisadores do projeto apoiaram a pesquisa sobre saúde mental de adolescentes durante a pandemia, desenvolvida por educadores e estudantes do 9º ano da Escola Municipal Bernardo O’Higgins. Eles entrevistaram jovens da escola e profissionais de saúde e, no fim, produziram um podcast. Para Leandro, a iniciativa em torno da saúde mental permeia toda a prática pedagógica e deve ser constituído como um dos objetivos do trabalho escolar, por isso a importância de projetos como o da EMEF Bernardo O’Higgins.

O diálogo com todo o corpo estudantil e discentes sobre o exercício da alteridade e respeito às diversidades também faz parte do debate sobre saúde mental. Pensando nisso, a implementação de redes de escuta, ações de monitoramento e acompanhamento devem ser pensadas. Em 2020, algumas escolas se adaptaram ao cenário da pandemia implementando distribuição de merendas e cestas básicas, rodas de conversa e atendimento gratuito para alunos e educadores.

Mas para a implantação de programas curriculares que incluam ações de promoção da saúde mental e contribuam para a produção de conhecimento e o aprendizado, é preciso que existam condições básicas para os educadores, a gestão escolar e os alunos, “o efetivo direito de acesso à educação exige o cumprimento de outros direitos fundamentais, como direito à alimentação, direitos estes que, nas comunidades periféricas onde estão as escolas parceiras, estão sendo violados”, afirma Leandro.