Alunos do primeiro ano de Educomunicação na USP lançam cursinho pré-vestibular gratuito

Por: Luana Machado

O Cursinho E.I.T.A (Estudos Intensivos para Tensos e Ansiosos) começou como uma iniciativa de um graduando de Educomunicação, André Buccieri, que é  professor de filosofia em escolas públicas. Vendo que muitos de seus alunos estavam desmotivados e ansiosos com o vestibular, ele teve a ideia de oferecer aulas de apoio aos sábados. “O André  decidiu juntar essa galera que estava pensando em desistir. Só que ele é só professor de filosofia e não ia conseguir dar conta de todo o conteúdo que a gente aprende na escola sozinho. Então, em uma das aulas de Educom, ele perguntou se alguém queria ajudar e aí eu e outros três colegas, a Ana Clara Costa e o Jhonatan Roldão, queríamos e começamos a dar aulas aos sábados e a nos organizar”, conta Beatriz Alves, aluna de Educomunicação e uma das coordenadoras do E.I.T.A. 

O projeto tem três meses, mas já possui cerca de 50 voluntários e 55 alunos de todo o Brasil. “Tudo começou entre amigos, entre colegas, e conforme foi crescendo nós fomos abrindo vagas para alguns pontos específicos. Por exemplo, estava faltando professor, a gente abriu vaga, percebemos que faltava pessoas para a monitoria, aí a gente abriu também. Agora, abrimos para alguém gerenciar nosso Instagram”, relata Beatriz. No futuro, pretendem criar um estatuto próprio e lançar editais para formalizar o laço com os voluntários e com os alunos. 

Quanto ao público-alvo do cursinho desde o começo foi bem delimitado como o nome sugere: estudos intensivos para tensos e ansiosos, E.I.T.A. Focado em alunos da rede pública com vulnerabilidade social e que enfrentam problemas psicológicos ou são neuroatípicos, a proposta diverge da maioria dos cursos populares. Isso é perceptível no modo de atuação com três frentes (a tutoria, o apoio e a mentoria) e dois projetos “extracurriculares”. O enfoque é o acompanhamento e apoio aos estudantes em todas as etapas de aprendizagem. 

As aulas são semanais, ministradas aos alunos ao vivo às terças e sextas-feiras, de 13h até 16h55. Aos sábados acontece quase um “intensivão” com aulas o dia inteiro, de 8h até 16h50. Todas as aulas são também gravadas e disponibilizadas em uma pasta no Google Drive com acesso liberado, isso porque eles entendem que, dado o perfil de seus alunos, nem sempre é possível para eles acompanharem as aulas síncronas.

 Por conta desse problema de presença e participação ao vivo, comum às escolas com ensino remoto, surgiu uma das frentes de atuação: a tutoria. “A gente tem o quórum muito baixo, então percebemos que para o perfil dos alunos que temos precisamos de um acompanhamento mais próximo”, conta Beatriz. Os tutores acompanham de 1 a 3 alunos, ajudando com cronogramas de estudo, no cumprimento de tarefas ou só perguntando como estão e funcionando como um ombro amigo, mais que necessário nesse processo do vestibular. 

Dessa necessidade de acompanhamento surgiu também o Apoio, uma iniciativa de escuta psicológica. “A gente recebia muitos alunos que falavam que estavam com problemas em casa, ainda mais com a pandemia, muitos depressivos, muitos ansiosos. Não sabíamos como ajudar, então o mais responsável a fazer era criar esse apoio psicológico”, fala Ana Clara Costa, aluna de Educomunicação que atua como ponte entre os voluntários e o Apoio. Os alunos marcam horário e o apoio, formado por uma psicóloga e uma aluna de psicologia, funciona como uma rede de escuta e acolhimento em momentos de vulnerabilidade.Vemos uma educação holística que só pode ser completa se a pessoa está saudável mentalmente”, afirma Ana Clara.

Já a mentoria é a terceira frente do E.I.T.A, e funciona como um atendimento de uma hora semanal para resolver dúvidas, além de ajudar os voluntários professores com a montagem de listas e exercícios. Os mentores têm contato aberto com os alunos, caso eles não compareçam na reunião ou precisem de ajuda emergencial. 

Quanto aos projetos extras, são dois: o clube do livro, Literalmente E.I.T.A, e o EITALAB. “É claro que a gente precisa se preocupar com o acesso à cultura dos nossos alunos. Não só para acrescentar repertório cultural deles, para usar no vestibular, mas tornar os estudos muito mais leves”. Por isso, a cada quinze dias, nas quintas, acontece o encontro “Literalmente E.I.T.A” no qual há um espaço para propor leitura de livros, falar da história deles e dos movimentos literários, assim como conversar sobre literatura, como forma de enriquecimento pessoal. 

Embora a iniciativa como um todo tenha proposta educomunicativa, o EITALAB é o projeto que concentra a prática da Educomunicação no E.I.T.A. Pensado em conjunto com a professora Daniela Osvald Ramos, do Labidecom, ele surge como um espaço “puramente de educom”. Cada semestre eles trazem um assunto específico para trabalhar com os alunos, voltado a desenvolver um projeto para a faculdade junto com eles e trazendo propostas diferentes de aprendizagem como usar jogos, RPG ou mesmo o TikTok. “Nesse semestre, nossa ideia foi fazer um trabalho de letramento digital com os alunos, para ajudar eles a entenderem essa parte de cidadania digital. Por exemplo, nós propomos ler juntos os termos de uso do TikTok , porque quando a gente entra em um site é obrigado a assinar um termo de condição de uso que nem sabemos o que é, o que estamos fornecendo. Então, lemos e refletimos com os alunos, juntando conteúdo de Ética e Filosofia”, explica Ana Clara. 

O E.I.T.A pretende abrir cem vagas no ano que vem, dobrando seu contingente de alunos e também o lançamento de um novo projeto em breve: O Clube do Cinema, para debater filmes e propor dinâmicas educomunicativas. 

 

Para saber mais sobre o Cursinho E.I.T.A, siga eles no Instagram: https://www.instagram.com/cursinhoeita/.